Com Esse Odio E Esse Amor

A literatura brasileira penetrando nos meandros do continente sul-americano. Este continente formado por ilhas isoladas, cada um na sua. Raras incursões são feitas ao nosso redor, uma visita aos nossos vizinhos. Maria José Silveira avança, abre o leque, leva seus personagens brasileiros para a Colômbia, eles falam português e portunhol, as discrepâncias são mostradas, as dificuldades de ambientação, diferenças de cultura. É uma história que começa de uma maneira e termina de outra e, infelizmente, não posso contar como, porque tiraria a surpresa do livro. Narcotráfico, guerrilheiros das FARC, sequestros, uma história de amor, a vida nas cidades, nas selvas, os acampamentos na floresta, o medo, o pânico, o suspense, tudo se mistura, é uma atmosfera rarefeita, muitas vezes sufocante, na qual a personagem Lela mergulha, conduzindo a ação. Por meio dela desvendamos as dificuldades de relações, os ciúmes, as concorrências, a competição, a dor. A estrutura do livro me lembra vagamente o Oito e Meio, de Fellini, onde as sequências se alternam. Porque há neste livro uma história real, atual e há uma história que volta no tempo, remete a Tupac Amaru, e uma ação se liga a outra, o passado desvendando o presente, buscando saber o que aconteceu na origem do comportamento. O presente não subsiste por si, precisa do passado. Este entra no romance por meio de um roteiro cinematográfico que não se sabe se será ou não realizado, assim como em Oito e Meio o personagem Guido prepara um filme que jamais será rodado. A narrativa é entremeada por e-mails, um recurso a mais com que contamos hoje, assim como amanhã entrará o Twitter. A tecnologia vem ampliando as estruturas, permitindo do corte cinematográfico à edição computadorizada. Daí a modernidade deste Com esse ódio e esse Amor que prenuncia novos tempos em narrativa.