O Convidado

Dias em luto não são contados, nem absolutamente findos. São como rodas-gigantes vistas ao longe… dias e dias que passam, sem nada que os diferencie um do outro; como se vindos a conta-gotas. Nada se sabe das semanas, dos meses… a rotina fica suspensa como uma lâmpada apagada. Os cumprimentos são silenciosos, os olhares para baixo. Não há demonstrações de afeto ou felicidade; e de repreensão, até porque, ninguém resolve pôr-se em rebeldia. Nem mesmo Lívia. Até ela parecia entender o triste momento vivido pela família, já que permanecia calada, como os demais. Mas os dias de luto passam… como passam o outono e o inverno. Numa manhã, talvez de tanta desesperança, o calor do sol anunciando o verão aquece o corpo e o coração. E a vida, insuportável de ser vivida em pé, de novo consegue caminhar. O tempo, lenta e pacientemente, faz, em seu monótono movimento, como a terra germinando sementes, imperceptíveis transformações nos sofrimentos, e a dor presente vira passado. Dói, mas não tanto. Há uma mancha que nunca mais se apagará, mas que, paulatinamente, é cada vez menos notada… até quando somente um borrão se vê, e ainda assim, entre um sorriso e outro.