A Volupia Dos Anjos

‘A volúpia dos anjos’ é uma continuação de ‘O vinho de Caná’, romance anterior de Mercedes Cavalcanti (embora, para o entendimento, a leitura de um dispense a leitura de outro). Ambos os romances se baseiam, supostamente, num manuscrito escrito por Hannah em duas partes, com 25 anos de diferença entre elas. ‘A volúpia dos anjos’ se inicia à época de Cristo, depois avança para o terceiro milênio, retornando, ao final, para o tempo anterior. José Pimentel aparece como coadjuvante e, embora sendo ficção tudo (ou quase tudo) o que é narrado no livro, ele existe mesmo, foi durante várias décadas diretor de ‘A Paixão de Cristo’, em Nova Jerusalém (Pimentel permitiu que a autora o usasse como personagem). O romance de Mercedes faz uma paródia bíblica. Os dois textos iniciais trazem como personagens a própria autora e um interlocutor fictício que, de tão verossímil, à primeira vista parece um personagem real. Trata-se de Frei Gonçalo, tradutor que integra o ‘Círculo de Tradução do Mosteiro de Nápoles’ e que passa temporadas numa casa na praia do Cabo Branco. Jesus Cristo, no livro, habita o humano e o divino. É por vezes inseguro, até ingênuo. Chega a aprender com a protagonista; por exemplo, o preceito de que quem é atingido numa face deve oferecer a outra ao agressor decorreu do fato de Hannah, num ato intempestivo, ter esbofeteado Jesus.