10/02/2017
“Walter Santos relatou a experiência em seu Blog, em post deste domingo (26/02/17). Segundo WS, o bloco é sinônimo de diversidade e um dos mais queridos no feriado pessoense. Confira a análise:
Classe Média elege “Raparigas do Chico” como novo Bloco preferido
Sábado aconchegante defronte ao Sebo Cultural fartamente nutrido de música de qualidade diante de uma quantidade expressiva de pessoas oriundas de todas as condições de gênero e “papo cabeça”, das várias gerações em cumplicidade com o Bloco “Raparigas de Chico” – o novo abrigo preferencial e de Fantasia da Classe Média de João Pessoa. Não que o Novo Eleito afete os demais Blocos do Folia de Rua, a partir do Muriçocas do Miramar e Cafuçu etc – ambos criados por essa gente inquieta da Classe Média, a partir dos sopros universitários, da classe artística e de pessoas de vários níveis convergindo com o senso crítico e intelectual sob o embalo do maior dos poetas musicistas do Brasil. Nada disso. O Preferencial é o que é porque despertou em várias gerações o sentimento de inquietude afetado pelas verdades poéticas de Chico Buarque. Cada canção é como simbolize o Alimento da alma a partir de cada cenário onde qualquer um faz sua sintonia com a essência musical de Chico se transformando em bálsamo e viagem emocional.
ALÉM DO TORPOR
A embriaguez que se multiplica e deixa muita gente em êxtase durante o Bloco está muito além das bebidas alcoólicas, do baseado ou de outro estímulo qualquer. Está até fora dos psicotrópicos estimulantes, porque muito do que se processa de euforia ou tristeza independe de fatores outros. Está no quengo, no tutano de cada um. Mas no Bloco “Raparigas do Chico” não há nada mais forte do que a convergência de pessoas em sintonia com a essência de cada canção chicobuarqueana porque somente ele soube e sabe interpretar as dores, fantasias, lutas, encantos, desencontros, separações e a alegria de viver.
É PROIBIDO PROIBIR
O Bloco conquistou de vez as diversas gerações porque seu amparo e foco se revertem em viagem no tempo embalando a ponte entre o Brasil e nossa Aldeia Tabajara convivendo com a sabedoria de Chico em satisfazer não só as mulheres – em tese a causa / razão de se despojarem numa condição de outra – mas também aos marmanjos, as lésbicas, homessexuais, trans – pois no “Raparigas do Chico” só retomar o prazer das Fantasias, das memórias – só isto basta. Em síntese, o Bloco perpassa a condição de gênero porque a paixão pela obra de Chico está além de sexo e condição social. É tudo pura sintonia e muito afeto por sua obra e pessoa.”
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Fernando Moura:
Mais uma canção saída do bizaco da folia. Frevo-exaltação, em homenagem às mulheres do bloco. O coral “Voz Ativa” irá apresentá-la amanhã. Esperamos que gostem e a incorporem ao repertório emocional da troça. E viva Chico!’
DIA DE RAPARIGA
(Luis Carlos Otávio/Fernando Moura)
No Sábado de Zé Pereira
Não quero o cococó do “Galo”
De macho, já me basta Chico
Que verseja e encanta
O que canto e calo
Vou sair de solteira
Vou cair no embalo
De rameira ou de freira
Vou dar beijo de estalo
Não me chame pra ir a Recife, meu bem
Hoje não saio daqui
Hoje não sou de ninguém
Só Chico vai me traduzir
Hoje me visto de atriz
Vou ser meretriz
Bradando assim:
Bela! Despudorada! Bem resolvida! Empoderada!
Linda! Desinibida! Caiu no Sebo, com as “Rapariga”!
Texto 02.2017 (Luis Carlos Otávio/Fernando Moura)
Raparigas transformam a avenida em belo ‘sanatório geral’
(José Carlos dos Anjos Wallach)
A poesia encaixa perfeitamente com o Carnaval. Quem ainda não sabe disso deveria ter ido ver esse casamento fantástico na Rua dos Tabajaras, perto de um Lyceu e dentro e fora de um sebo. Cultural demais, esprangido demais, livre demais, despojado de preconceitos, comprometido com o livre pensamento e o livre dançar, dançar, dançar…
Raparigas de Chico – o bloco. Cinco anos de existência de um grupo muito bem engendrado, que começou a chamar atenção nos três últimos. Encheu a via pública em paz. E ofereceu um desfile de beleza e misturas de roupas, idades, cores, vontades. Muito massa ver. E ouvir, então… Na trilha sonora, a arte do homem que fez todas essas raparigas se reunirem num sábado de carnaval, no centro de João Pessoa. Chico Buarque passou com a banda e transformou o lugar numa imensa roda viva.
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Poema: As Raparigas de Chico
Ser Rapariga de Chico
Nao é destino
Sina
É decisao
Nossos olhos nao sao tristes
Brilham de alegria e paixao
Nao vemos a banda passar
Somos a banda a espalhar
Beleza e emoçao
Ser Rapariga de Chico
É ser cabrocha de qualquer ala
Rapariga nao se cala
Grita
Fala
Todo dia fazemos tudo igual
Acordamos ás 6 00hs da manha
Estamos em construçao
Vivemos nossas escolhas
Somos livres
Donas de nossas vidas
De nossos destinos
Corpo e amores
Reinventamos o cotidiano
Fala Barbara
Geni e Carolina
Com açucar com afeto
Sem medo
Com amor
Incontesto
Somos Raparigas de Chico
Apaixonadas
Apaixonamos
Nao tem Galo
Nem Pitombeira
Canto para a cidade ouvir
Sou rapariga por inteira
Só Chico
Como posseiro
Reina em meu coraçao
Eu sua cabrocha
Ele para sempre meu mestre sala
Nesse amor que nao se cala
Ser Rapariga de Chico
Nao é sina
É decisao.
Alessandra Chianca (do Coral Voz Ativa)
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Poema:
HOMENAGEM AO BLOCO: AS RAPARIGAS DE CHICO
De rapariga em rapariga,
O bloco se irriga
Com as proparoxítonas
Enfeitando suas zonas
Com a volta da Rita,
Do bêbado que ressuscita,
Do Pedro que acerta na sena,
Do brilho das Helenas,
Do retrato em verde e rosa,
Da banda que não anda,
Mas passa e dá asas
Aos paralelepípedos
Dos sebos-enredos,
Dos escafandristas cantando segredos,
Do dourado no dente
Berrando pelo seu oxente,
Dos olhos em modo ‘acorda amor’
Sem pedaço de dor,
Dos batuques do Buarque,
Do sabiá no desembarque
Com o maestro soberano
Em solo paraibano,
Da Morena de Angola,
Da Ana que engole sola,
Da Renata do Leblon,
Da Nara adoçando o som,
Pois chegou o Carnaval
Do Chico, da Chica,
Do animus, da anima,
Da mais perfeita rima,
Do gênio da raça,
Da cachaça com fernet,
Do engov que vencerá amanhã,
Da Geni que aguenta gemer,
Do povo que não tem nada a temer!
Jorge Andrade Mangueira, 9.2.2017
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HOMENAGEM POÉTICA
Um gênio da “Construção”
Um “Passaredo” repleto
“Com Açúcar, Com afeto”
Viaja na “Embarcação”
Encanta “Tipo um Baião”
Mesmo estando “Embebedado”
Com um “Cálice” ao seu lado
É “Sinhá”, “Nina”, “Guri”
“Pedro Pedreiro”, “Geni”
Na “Roda Viva” inspirado
II
Em “Um Tempo que Passou”
Profetizou: “Vai Passar”
Com “Quadrilha” a censurar
“Rosa dos Ventos” brilhou
Não foi “Estorvo”, bradou
Defendeu “Você, Você”
Em “Gota-D’água” o porquê
“Moto-Contínuo” a buscar
“Assentamento” a clamar
Por “Quem te viu, Quem te vê”
III
Por seu “Leite Derramado”
“Budapeste” com desvelo
Sua “Fazenda Modelo”
“Benjamim”: denso, encantado
“Fado Tropical”: legado
“Carioca”: que cenário
“Carolina”: um relicário
“Bárbara” forte e tão branda
Por fim o fã ouve “A Banda”
De nosso Gênio Operário!
Autor: Nenem Patriota
Hoje é o dia da graça
Raparigas de Chico levam poesia, música e alegria para o Centro da capital
Um sábado não é mais que um sábado se não lhe pintam cores mais fortes, se líquidos mais libertários não lhe são derramados, se recônditos sentimentos e desejos contidos não tenham, no universo deste dia e por seus limites determinado, um alvará de soltura. As Raparigas de Chico Buarque vieram para subtrair a chatice do que era apenas mais um sábado, para transformá-lo em um iluminado, um fabuloso sábado de carnaval.
Se o fenômeno carnavalesco, em suas raízes dionisíacas, desponta como uma forma de virar o mundo às avessas e através do riso e da bufonaria fundir o grotesco no sublime, o bloco As raparigas de Chico, mais do que qualquer outro em suas mascaradas, ratifica essa peculiaridade, principalmente, por combinar, simbolicamente, os marcos ruidosos e burlescos das raparigas com a densidade, a diversidade e a poesia sublime das canções de Chico Buarque.
O corporal, em sua alegre e despojada expressão, sob o ritmo do samba, do frevo, da brincadeira e da malícia, testemunha, como nas antigas bacantes, a totalidade viva e risonha de um bloco carnavalesco composto pelo gosto em comum onde se afinam, em buarquicos acordes de coro único e sob a permissiva sombra do estandarte do sanatório geral, a alegria da vida: “Ai que vida boa olerê, ai que vida boa olará.
É verdade que Chico Buarque nunca foi unanimidade, pois se há quem jogue bosta na heroica e ética Geni, será impossível proteger um poeta, um artista brasileiro, um cara capaz de cometer ingenuidades obtusas como torcer pelo fluminense e acreditar que a dor e a banda vão passar; não há como protegê-lo nem evitar que os seus olhos marejem, que o seu corpo vacile nauseado pela idiotice. Quem dera, para estes incautos, o carnaval, a luz e a desinvenção da tristeza.
No entanto, o desamor de tão poucos, a cinza que lhes escapa, este fato, esta exclusão, acaba por determinar para o bloco uma saudável e conveniente cura. Por isto os homens, mulheres, todos os bichos, todas as raparigas enfim, são lindas, cheirosas e sem dispensar a intrínseca e carnavalesca impureza, bem limpinhas. È preciso gostar de Chico Buarque, da sua obra, para ser feliz neste sábado. Se esta querência lhe contempla, se permita o deleite: se emocione, carnavalize.
Os blocos nascem da necessidade de quebrar a inércia, nascem da ânsia por felicidade, da convicção de que é preciso que a alegria seja muita, que a euforia tangencie e usurpe a tristeza, que dela se divirta até que, finalmente, nela se transforme. As Raparigas de Chico Buarque nasceu também da necessidade que todos temos de devolver a Chico um pouco do que ele, o seu trabalho e talento, nos dá: ritmo, melodia, poesia, sentimentos, arte e carnaval.
É hoje o dia da festa, o dia da graça, da caça e do caçador. Às quinze horas, no Sebo Cultural, Avenida Tabajaras, Centro da Capital, aproximadamente quatro mil brincantes somarão suas vozes, corações e desejos em torno da obra de um dos mais importantes compositores do país. Será a quinta edição de um dos mais peculiares blocos, o mais lírico e poético da Paraíba. Concentra, mas não sai e abraça tudo quanto for de gente boa. Viva As Raparigas de Chico.
Gilson Renato – 5 de fevereiro de 2016