23/01/2020
SOBRE O AUTOR: Pedro Laurentino, poeta, natural de Teresina/Pi é trabalhador do TRT/Pi, dirigente sindical e militante da Unidade Popular. Nos anos 1970 foi cursar agronomia na Universidade Federal Rural de Pernambuco, presidiu o DCE Odijas de Carvalho e liderou uma greve pelo curso de férias em plena ditadura Geisel (1977). Foi diretor de reconstrução da UNE e presidente de reconstrução da União ds Estudantes de Pernambuco. Como consequência foi vereador do Recife ainda sob a ditadura, em 1982 (PMDB) e posteriormente vereador em Teresina, em 2001 (PDT). Sentinela da Aldeia é seu quarto livro de poesia e abrange a produção dos últimos 3 anos.
SOBRE O LIVRO: O CHÃO ENUNCIATIVO DE PEDRO LAURENTINO
Etimologicamente falando, “Aldeia” se refere à lugarejo, monte, aldeamento; assim como “Sentinela” indica alguém encarregado de vigilância, proteção ou custódia de algo; Poeticamente falando temos aqui: “Sentinela da aldeia”. A poesia é livre de conceitos, funções ou atribuições, muito embora, paradoxalmente, possa abranger tudo isso em sua cadeia semântica.
Recebi com muita honra o pedido do Poeta Pedro Laurentino para apresentar seu livro que ora vem a lume; logo na porta de entrada o Poeta deixa vestígios do que encontraremos em sua “Aldeia” “Reescreva Poeta/ teus passos/ pichando as paredes podres/ com as tintas do teu desastre”.
Do poema “Versos derradeiros” eu destaco este excerto : ” …Ai fico e não termino” São meus versos /verdadeiros/ aos bravos de Teresina”.
Sabendo que Laurentino é um poeta ciente de seu ofício e que suas lutas são perceptíveis e indissociáveis de seu labor literário, não tenho dúvidas da força, das denúncias, da indignação… que iremos encontrar nas páginas a seguir, transmutadas em poesia, vide uma dessas assertivas no trecho do poema transcrito abaixo: ” Não, não ensinarei a rezar/ a minha prece é a indignação/ o conflito, a procura”.
Nenhuma palavra é neutra. Desde que o homem desenvolveu a oralidade, a palavra, além de outras atribuições, é instrumento de relações e diálogos entre sistemas, classes e grupos e a linguagem poética também não poderia prescindir de sua função social, política e cultural, ferramentas muito bem manejadas por Laurentino. A exemplo disso veja-se os poemas: -Crepúsculo -O milagre do amor próprio -Mínimo -Pretos do tuiuti -balas trocadas -perambulando -matando gente -gari.
Lançar poesias nestes tempos áridos, incertos e de muitas barbáries é contribuir para perpetuar o código sensível na espécie humana; precisamos da arte e de seus símbolos como escudo e como lança contra as intempéries da vida. Em o “Guardador de rebanhos” Alberto Caeiro diz:” Da minha aldeia, vejo o quanto de terra se pode ver do Universo”. De sua “Polis” o Poeta Pedro Laurentino, debruça o olhar sobre o mundo, e não poderia passar incólume por “Aleppo” ” O Sangue de Aleppo/ as crianças de Aleppo/ os cegos, os civis/ os restos mortais de Aleppo”. Mas também representa, fala e testemunha o sofrimento ou a bonança de sua Aldeia; louva os rios de sua terra, os amores, as dores, “as lições do pai”; dá voz aos oprimidos e dialoga com outros grandes vates à exemplo de Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana.
A Aldeia de Laurentino pode ser vista como um inventário dos caminhos percorridos, as vivências, percepções e sensações, assumindo uma posição autêntica diante dos aspectos sociais, políticos e culturais. A crítica social, os dilemas existenciais, a representatividade são algumas das matérias primas de seus versos e o que temos em mãos é um livro que congrega toda a experiência de um poeta guardião de suas vivências e memórias ao longo da história. Já dizia meu conterrâneo Nauro Machado: “Ser poeta é duro e dura e consome toda uma existência” .
Encerro com o trecho do poema “Divagações ao acaso” Pedro, Pedro, não há solução, mas revolve tua poesia pra marcha não ser em vão” Com toda a minha admiração a este bravo poeta!
Luiza Cantanhêde. Poeta, autora dos livros: ” Palafitas e Amanhã, serei uma flor insana.(Penalux)