Mar Escrito

Descubra que havia vários tipos de medo nas redondezas de seu universo particular. Sempre que decida vasculhar o passado posto no velo e pequeno baú, pensava. Era um medo distinto daquele de quando tinha catorze anos e permitiu que seu corpo liberasse o rubro tom da maturidade. Também era diferente daquele medo de escuro ou da cicatriz eterna do seu tio Fausto. Um medo de voar, mas transbordante em asas. Um medo de silêncio, mas calcado de vozes mudas ou contidas. Um medo estranho. Sem cor. Sem nome. Um medo, simplesmente. No velho baú de estanho, apenas umas poucas fotografias disputam espaço com umas poucas cartas, histórias, divagações, e um frasco de veneno, agora quase vazio. Juras de amor entalhadas de desejos e segundas intenções. Ali guardava demais noções, como o filho que não chegou a fazer seu primeiro aniversário, como o sapato vermelho que ficou na vitrine daquela loja perfumada ou então aquele beijo não dado que assombra seus pensamentos que o silêncio decide cantar.