O outro lado da consciência – Confissões de uma guarda da SS

Encarcerada em sua cela no presídio de Gdańsk, a jovem alemã Jenny Barkmann é acusada por crimes de guerra cometidos em um campo de concentração nazista. Enquanto aguarda o julgamento que selará seu destino, ela recorda a turbulência dos últimos anos durante a guerra e faz um balanço de sua vida, marcada por um embate interno entre sonhos românticos, planos ambiciosos e dolorosas frustrações. Através dos olhos desta guarda convertida em prisioneira, embarcamos em uma jornada que nos permitirá conhecer o cotidiano de uma vida surpreendentemente “normal” – com cinema, piscina e salão de beleza – em meio à barbárie de uma gigantesca estrutura de trabalho escravo e extermínio, com a chaminé do crematório sempre a todo vapor. Enquanto acompanhamos as recordações da protagonista, compartilhando a intimidade de seus dilemas e emoções, teremos oportunidade de conhecer em detalhes as dramáticas “seleções na rampa” que separavam os prisioneiros recém-chegados entre aqueles que seriam aproveitados para o trabalho e os que seriam enviados diretamente para as câmaras de gás; as pesquisas genéticas de Doktor Josef Mengele; a corrupção e as orgias sexuais promovidas por oficiais da SS; e os últimos meses da guerra, com a ameaça do avanço soviético e as “marchas da morte”. Mas a narrativa crua deste romance histórico baseado em fatos reais garante espaço também para a reflexão. E aí reside o seu diferencial em relação ao lugar-comum das obras sobre o Terceiro Reich. A autora Vivian Wößner assume uma atitude corajosa ao apresentar a mesma história, tantas vezes contada com base nos testemunhos de prisioneiros sobreviventes, desta vez vista do outro lado do arame farpado, através dos olhos de uma guarda da SS. Ao desvelar as entranhas de um lado sombrio do ser humano, ela desmistifica as crenças ingênuas que consideram os crimes contra a humanidade como “obras do demônio”, praticadas por seres monstruosos que nada teriam em comum com “pessoas de bem” como nós.