O Rio E Seu Segredo – A Pianista Que Desafiou Mão

Em 1969, auge da Revolução Cultural chinesa, Zhu Xiao-Mei tinha 20 anos. Após uma longa estadia num campo de reeducação, a jovem pianista sentiu uma irresistível vontade de tocar piano novamente. A mãe lhe mandou o instrumento e, com ele, a chinesa e seus colegas realizaram um singular e emocionante concerto. Para a sorte deles, a Revolução Cultural foi tão bem-sucedida que o temido diretor do campo sequer reconheceu Tchaikovski, Dvorak ou Rachmaninoff — proibidos junto com toda música ocidental. Naquele momento, começava a luta de Xiao-Mei para retomar uma carreira interrompida, percurso que a levará a Hong Kong, Los Angeles, Boston e Paris. Perdida na cultura ocidental, ela encontra refúgio nas obras-primas de Johann Sebastian Bach, as Variações Goldberg — que curiosamente abrem a porta à obra do pensador chinês Lao Tse, censurada pela China maoísta. A Revolução Cultural, que durou de 1966 a 1976, deixou uma geração perdida na China. Zhu Xiao-Mei foi uma das poucas que não desistiram do sonho de desenvolver seu talento. A pianista passa anos batalhando e estudando nos Estados Unidos e na França. A Disneylândia, as mansões a banalização da música clássica agridem seu universo. Mas através de Bach e das dificuldades que enfrenta, Xiao-Mei começa a entender sua própria identidade cultural e, por fim, o pensamento de Lao Tse: “A bondade suprema é como a água, que tudo favorece e com nada rivaliza.” O aprendizado e a perseverança culminam com seu primeiro concerto profissional, em Paris — aos 40 anos de idade. Desta trajetória dramática surge O Rio e seu Segredo, relato verídico e emocionante de um encontro entre leste e oeste, passado e presente, música e filosofia.